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Agricultura

Citricultura ganha duas variedades de laranja precoces e produtivas

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Foto: Eduardo Girardi

 

Duas novas variedades de laranjeira-doce, que combinam precocidade e alta qualidade de suco — com destaque para o sabor e a coloração — serão lançadas no dia 3 de junho, durante a 50ª Expocitros, um dos principais eventos da citricultura mundial. Selecionados e avaliados pela Embrapa e o Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM), do Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Fundação Coopercitrus Credicitrus (FCC), os materiais representam mais um avanço tecnológico da Unidade Mista de Pesquisa e Transferência de Tecnologia (Umiptt) Cinturão Citrícola (SP). As inovações atendem a uma das principais demandas do setor pela diversificação de variedades, mais produtivas e sustentáveis. O projeto contou ainda com a colaboração do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), universidades e produtores. A iniciativa reforça o protagonismo do Brasil, maior produtor mundial de laranjas e líder na exportação de suco cítrico.

Kawatta (foto à direita) e Majorca são duas laranjas introduzidas do Suriname e da Flórida, respectivamente, avaliadas desde o início da década de 1990 no estado de São Paulo. Os materiais se destacaram em ensaios de competição como alternativas de variedades de maturação precoce (colheita entre maio e agosto), com alta qualidade de suco, coloração mais intensa e boa relação sólidos solúveis/acidez (critério de avaliação de sabor). As variedades precoces mais cultivadas no Brasil atualmente, as laranjas Hamlin e Valência Americana, são muito produtivas, porém, apresentam frutos e suco com menor qualidade em termos de coloração e sabor, especialmente a Hamlin, mais plantada entre as precoces.

Segundo o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Eduardo Girardi, as variedades precoces são mais convenientes para a citricultura. Com a colheita mais rápida, apresentam menor risco de exposição à seca devido ao ciclo mais curto de produção, sem falar na poda e até, eventualmente, a colheita mecanizada, que pode se tornar mais fácil no futuro. “Além disso, as duas variedades apresentam boa produtividade sem irrigação, acima de 30 toneladas por hectare, e já foram avaliadas em várias regiões do estado de São Paulo com os três principais porta-enxertos (parte radicular da planta de citros) usados no estado, mostrando-se compatíveis”, salienta Girardi, que atua no campo avançado sediado no Fundecitrus, em Araraquara (SP), e coordena a Umiptt Cinturão Citrícola.

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De acordo com a pesquisadora Camilla Pacheco, da área de Melhoramento Genético de Plantas, do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola da Citrosuco, empresa parceira na validação dos materiais, quando o assunto é variedade de laranja-doce com maturação precoce, o cenário, de modo geral, engloba baixa diversificação de cultivares, baixa qualidade sensorial, produção de sucos com menor teor de sólidos solúveis e menor intensidade de sabor. Perspectiva, como define, bem desafiadora para a indústria processadora de suco de laranja, particularmente, para a produção de suco pasteurizado não concentrado (NFC – Not From Concentrate), que possui maior valor agregado na cadeia citrícola em comparação ao suco concentrado congelado (Frozen Concentrated Orange Juice – FCOJ).

“O suco NFC exige matéria-prima de qualidade superior, com maior teor de sólidos solúveis, acidez equilibrada e um perfil sensorial mais rico. Atributos que as cultivares precoces atualmente disponíveis para plantio em larga escala não atendem plenamente. Além dessas limitações, a citricultura enfrenta desafios fitossanitários que impactam diretamente a qualidade da produção. Como, por exemplo, a disseminação do HLB [huanglongbing, também conhecido como greening], que causa alterações fisiológicas nos frutos, reduzindo significativamente a qualidade do suco devido ao aumento da acidez, redução do teor de sólidos solúveis, presença de amargor, além de outras disfunções que corroboram com a ocorrência de sabores indesejáveis”, afirma Pacheco. Majorca e Kawatta são suscetíveis ao HLB e outras doenças das laranjas, sendo necessário o manejo apropriado.

Histórico de introdução e avaliação das cultivares

A Kawatta é um acesso antigo, introduzido no Brasil em 1969, e a Majorca, no fim da década de 1980. Ambas foram introduzidas pelo IAC, incorporadas ao Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Citros do CCSM e, de lá, enviadas para o BAG da Embrapa Mandioca e Fruticultura e da antiga Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), atualmente FCC.

A pesquisadora Marinês Bastianel, curadora do BAG Citros do CCSM/IAC, conta que esses materiais passaram por um processo de microenxertia e limpeza clonal. Desde então, são mantidos em estufas como materiais microenxertados e pré-imunizados contra a tristeza dos citros (plantas inoculadas com um isolado fraco do vírus que causa essa doença).

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A avaliação das cultivares se iniciou em 1990, em Bebedouro, com mudas produzidas na EECB a partir de borbulhas (pequenos brotos retirados de galhos de frutas cítricas selecionadas, que servem para produzir mudas de qualidade) fornecidas pelo CCSM e durou 14 safras. Kawatta e Majorca foram comparadas a diversas variedades, incluindo a Hamlin como controle. O professor aposentado da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) – campus Jaboticabal (SP) Luiz Carlos Donadio coordenou o projeto original, no fim da década de 1990, que teve por objetivo a avaliação agronômica e industrial de clones de laranjeiras, em parceria entre a EECB e a empresa Montecitrus, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Foram avaliadas nove variedades de laranjas precoces, enxertadas no porta-enxerto citrumelo Swingle e depois outras variedades enxertadas em tangerineira Sunki nessa mesma época. A qualidade dessas variedades é compatível com as que são plantadas no estado, acrescentando mais cor ao fruto e ao suco. Posteriormente, a Embrapa veio a colaborar com esse projeto, plantando e testando os materiais em outras propriedades do estado”, conta Donadio.

De 2005 em diante, as variedades seguiram para avaliação nos municípios de Iaras, Itapetininga, Onda Verde e Boa Esperança do Sul, em ambiente de fazendas comerciais. São compatíveis para enxertia com os principais porta-enxertos (limão Cravo, citrumelo Swingle e tangerina Sunki). Ambas, Kawatta e Majorca, apresentam boa concentração de sólidos solúveis, com frutos mais indicados para processamento de suco, e, embora possuam de oito a dez sementes, podem ser aproveitadas como frutas de mesa. A curadora do BAG Citros do IAC ressalta que a Kawatta se destaca pela coloração mais intensa da polpa, enquanto a Majorca apresentou maiores teores de vitamina C durante as avaliações em comparação com as outras variedades.

Em outro aspecto, Bastianel pontua que as variedades foram testadas e mostraram aptidão para cultivo desde o extremo sul até o norte de São Paulo, regiões mais frias e quentes do estado, respectivamente. “Com toda essa questão de mudanças climáticas, buscamos ofertar variedades cada vez mais resilientes e adaptadas a essas mudanças, e as duas variedades indicaram um potencial de adaptação mais abrangente”, acrescenta.

O engenheiro-agrônomo Luiz Gustavo Parolin (FCC), que também atuou na avaliação das cultivares desde o início, ressalta ainda que elas apresentam outra vantagem: a maturação ligeiramente mais lenta que a Hamlin, permitindo ao produtor planejar o escalonamento da colheita. No entanto, elas não retêm os frutos por tanto tempo quanto a laranja Pera. Ele reitera que essas variedades fazem parte de um conjunto de novas cultivares que vão ser lançadas gradativamente nos próximos anos, frutos da parceria entre as instituições. “Temos mais quatro possiblidades de cultivares de laranjeira para lançamento em breve, além de novas tangerinas”, adianta Parolin.

Foco na diversificação de cultivares

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A Embrapa vem contribuindo com a diversificação de cultivares disponibilizando novas variedades ao mercado. Em 2023, também em parceria com o CCSM/IAC e a FCC, lançou duas variedades de laranja (BRS IAC EECB Alvorada e Navelina XR) e uma de limeira-ácida Tahiti (BRS EECB IAC Ponta Firme). Como salienta Girardi, a intenção é criar um portfólio de produtos, com características distintas, de modo a atender às necessidades do setor produtivo.

“Esses também são os frutos do trabalho coordenado pelo nosso saudoso Eduardo Stuchi, pesquisador da Embrapa que faleceu no ano passado, e deixou esse enorme legado para a citricultura brasileira.” O pesquisador frisa ainda a importância da parceria com produtores e diversas instituições, pois cultivares levam décadas para serem obtidas, selecionadas e validadas. “Sem a colaboração de parceiros, que vão desde a Citrosuco e a Montecitrus, passando por estudantes de pós-graduação da Unesp e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), até a atual Umiptt gerida em cooperação entre a Embrapa, o Fundecitrus e a FCC, além da possibilidade de o IAC ofertar plantas básicas aos viveiristas, essas tecnologias jamais chegariam ao setor produtivo com o maior conhecimento possível sobre seu desempenho e características”, ressalta Girardi.

A curadora do BAG Citros do IAC acrescenta que houve uma mudança significativa nos últimos anos no cenário da citricultura, e o produtor hoje é mais interessado em adotar novas opções, tanto de porta-enxertos quanto de copas. “A citricultura já tem padrões fixados. Por exemplo, um produtor de Ponkan quer uma nova tangerina que tenha todos os padrões da Ponkan, facilidade de descascar, sabor etc. e que produza de janeiro a dezembro. Apesar de ter um padrão bem fixo de variedades, temos observado uma mudança nos produtores. Estão mais abertos a novas variedades, com foco maior na qualidade. Por isso, se as variedades mostrarem produtividade similar ou mesmo menor, mas com qualidade de fruto superior ao padrão Hamlin, têm grande potencial de mercado e de aceitabilidade por parte do setor”, enfatiza Bastianel.

O superintendente da FCC, Oscar Franco Filho, avalia a atuação conjunta das instituições para o lançamento de variedades. “O trabalho da Embrapa iniciado aqui conosco em 1985 tem rendido muitos frutos, não apenas para demandas locais, regionais e estaduais, mas para todo o Brasil. A Embrapa, com essas novas variedades, tem trazido riqueza, conhecimento, inovação ao País. Temos a honra de participar de mais esses dois novos lançamentos, e as porteiras estão sempre abertas para qualquer outro tipo de projeto que tenha viabilidade técnica e econômica”, reforça Franco Filho.

Oferta aos viveiristas

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O material propagativo será disponibilizado aos viveiristas a partir do segundo semestre de 2025, em parceria com o IAC, por meio da oferta de borbulhas de plantas básicas no estado de São Paulo. Embrapa, CCSM/IAC e FCC são comantenedores das cultivares junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Bastianel explica que foram estabelecidas duas cópias de cada uma das variedades para poder fornecer borbulhas de plantas básicas. O CCSM/IAC vai ofertar, para o setor, borbulhas de plantas básicas, e os viveiros vão fazer as suas matrizes. “É inviável para nós fornecermos borbulhas para muda final, devido ao número elevado de plantas que, porventura, venham a ser solicitadas. Então, a solução é disponibilizamos borbulhas para os viveiristas terem as suas matrizes ou borbulheiras e, aí sim, produzirem as mudas finais”, observa a curadora.

Aliado aos ODS

O lançamento dessas variedades de laranjeira-doce está alinhado ao compromisso da Embrapa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2015 com a missão de construir e implementar políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030 (Agenda 2030).

Atende ao Objetivo Número 2 – “Fome zero e agricultura sustentável”, que consiste em erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável. Em 2017, foi criada a Rede ODS Embrapa, que visa gerenciar a inteligência distribuída nas unidades de pesquisa e responder a demandas sobre a Agenda 2030.

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Fonte: Assessoria

Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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Agricultura

Lula pediu a presidente da China a retomada de compra de frango após gripe aviária

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Foto: Ricardo Stuckert/ Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu ao presidente da China, Xi Jinping, que o país volte a comprar frango brasileiro.

As exportações brasileiras de produtos avícolas de todo o território nacional à China estão suspensas desde 16 de maio, quando foi confirmado um caso de gripe aviária em granja comercial no município de Montenegro (RS), conforme prevê o acordo bilateral sanitário entre os países.

O pedido de aval para a retomada das exportações brasileiras foi feito por Lula durante telefonema a Xi na noite da segunda-feira (11), afirmam interlocutores. Xi teria dito a Lula que buscaria a resolução do tema, conforme os relatos.

Lula teria mencionado o assunto três vezes durante a ligação com o líder chinês, de acordo com as fontes. Em nota divulgada na segunda-feira, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) afirmou que a ligação durou cerca de uma hora e que os presidentes falaram sobre “a parceria estratégica bilateral” entre o Brasil e a China e “saudaram os avanços já alcançados no âmbito das sinergias entre os programas nacionais de desenvolvimento dos dois países”.

Veja em primeira mão tudo sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo: siga o Canal Rural no Google News!

Anteriormente à ligação, o governo avaliava o envio de uma nova carta ao governo chinês pedindo a liberação dos embarques. O Brasil busca retomar a exportação de frango para a China após a conclusão do caso de gripe aviária e a recuperação do status de país livre de gripe aviária em plantel comercial, com reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) obtido desde o fim de junho.

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O protocolo acordado entre Brasil e China prevê que o país pare de certificar as exportações para o mercado chinês em caso de gripe aviária em plantel comercial. O reconhecimento do status sanitário brasileiro e a retomada das exportações dependem da validação da autoridade sanitária chinesa, assim como ocorre com os demais países importadores dos produtos avícolas nacionais.

Frigoríficos habilitados

O Ministério da Agricultura enviou ainda em junho um dossiê técnico de informações para avaliação da Administração Geral de Alfândega da China (GACC), autoridade sanitária do país asiático, para consequente autorização do retorno das exportações e restituição da habilitação dos frigoríficos aptos a exportar ao país.

Antes da suspensão temporária, 51 frigoríficos brasileiros estavam habilitados a exportar carne de frango e derivados ao país asiático.

No último mês, a GACC solicitou informações adicionais sobre a situação do Rio Grande do Sul e as medidas tomadas para evitar que a gripe aviária se espalhasse em um questionário enviado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). As respostas foram encaminhadas e havia expectativa de conclusão da análise pela GACC neste mês.

China é maior importador

A China é o principal destino do frango brasileiro, sendo responsável por 13% dos embarques da proteína brasileira. Em 2024, o Brasil exportou 561 mil toneladas de carne de frango à China, gerando US$ 1,288 bilhão em vendas externas.

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Em junho de 2023, o presidente Lula fez um movimento semelhante para liberar embarques de carne bovina à China. Na época, o presidente se envolveu pessoalmente para tentar destravar cerca de 40 mil toneladas de carne brasileira retida em contêineres na China, o equivalente a R$ 2,5 bilhões.

Na ocasião, o presidente Lula também ligou a Xi para pedir a liberação da proteína congelada exportada e produzida antes da confirmação de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (conhecida como mal da vaca louca) em 23 de fevereiro daquele ano, quando o país asiático suspendeu temporariamente as exportações do produto brasileiro. A liberação ocorreu cerca de 20 dias após a ligação.

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Agricultura

Governo anuncia R$ 30 bilhões para empresas afetadas por tarifaço 

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Foto: Divulgação/CS Portos

As empresas afetadas pelo tarifaço do governo de Donald Trump receberão R$ 30 bilhões em linhas de crédito, disse na noite desta terça-feira (12) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao canal Band News, ele adiantou o valor da ajuda em crédito que será anunciada nesta quarta-feira (13).

“Amanhã, vou lançar uma medida provisória que cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as empresas brasileiras que porventura tiveram prejuízos com a taxação do Trump. [Essa quantia de] R$ 30 bilhões é o começo. Você não pode colocar mais porque não sabe quanto é’, declarou Lula, indicando que o valor pode aumentar, caso seja necessário.

De acordo com Lula, o plano dará prioridade às menores companhias e a alimentos perecíveis.

“A gente está pensando em ajudar as pequenas empresas, que exportam espinafre, frutas, mel e outras coisas. Empresas de máquinas. As grandes empresas têm mais poder de resistência. Nós vamos aprovar [a medida provisória] amanhã, e acho que vai ser importante para a gente mostrar que ninguém ficará desamparado pela taxação do presidente Trump”, prosseguiu o presidente.

Segundo Lula, o plano procurará preservar os empregos e buscar mercados alternativos para os setores afetados.

“Vamos cuidar dos trabalhadores dessas empresas, vamos procurar achar outros mercados para essas empresas. Estamos mandando a outros países a lista das empresas que vendiam para os Estados Unidos porque a gente tem um lema: ninguém larga a mão de ninguém”, acrescentou.

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O presidente também anunciou que ajudará os empresários afetados a brigar, na Justiça estadunidense, contra o tarifaço aos produtos brasileiros. “Vamos incentivar os empresários a brigar pelos mercados. Não dá para dar de barato a taxação do Trump. Tem leis nos Estados Unidos, e a gente pode abrir processo. Eles podem brigar lá”, disse.

Créditos extraordinários às empresas

Mais cedo, pouco após audiência pública no Senado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esclareceu que as medidas de ajuda virão por meio de crédito extraordinário ao Orçamento, recursos usados em situações de emergência fora do limite de gastos do arcabouço fiscal. Esse sistema foi usado no ano passado para socorrer as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

Sem dar detalhes sobre o plano, Haddad afirmou que as medidas estão 100% prontas e que contemplam as demandas do setor produtivo. Ele ressaltou que a formulação das propostas ocorreu após reuniões com vários representantes e que deve ser “o necessário para atender aos afetados”.

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Agricultura

Brasil obtém receita recorde nas exportações de café e luta contra tarifaço

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Foto: CNA

O Brasil exportou 2,733 milhões de sacas de 60 kg de café em julho, primeiro mês do ano da safra 2025/26, queda de 27,6% na comparação com o mesmo período de 2024. Os dados partem de relatório mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Contudo, a receita cambial foi recorde para os meses de julho, com o ingresso de US$ 1,033 bilhão, crescimento de 10,4% no comparativo anual.

No acumulado dos sete primeiros meses de 2025, a exportação de café do Brasil recuou 21,4% na comparação com o mesmo período do ano passado (28,182 milhões de sacas), com os embarques caindo para 22,150 milhões de sacas.

A receita cambial, por sua vez, cresceu 36% ante o obtido entre janeiro e o fim de julho de 2024, alcançando o recorde para o período de US$ 8,555 bilhões.

“Uma redução nos embarques já era aguardada neste ano, uma vez que nós vimos de exportações recordes em 2024, estamos com estoques reduzidos e uma safra sem excedentes, com o potencial produtivo total impactado pelo clima. No que se refere à receita cambial, ainda surfamos a onda dos elevados preços no mercado internacional, que reflete o apertado equilíbrio entre oferta e demanda ou mesmo um leve déficit na disponibilidade”, conta o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.

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Principais destinos do café

Os Estados Unidos seguem como o maior comprador dos cafés do Brasil no acumulado dos sete primeiros meses de 2025, com a importação de 3,713 milhões de sacas, o que corresponde a 16,8% dos embarques totais e, apesar de apresentar declínio de 17,9% na comparação com o adquirido entre janeiro e julho de 2024, esse volume fica acima dos 16% de representatividade aferidos no mesmo intervalo do ano passado.

“Até julho, não observamos de fato o impacto do tarifaço de 50% do governo dos Estados Unidos imposto para a importação dos cafés do Brasil, já que a vigência da medida começou em 6 de agosto. A partir de agora, as indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoque por 30 a 60 dias, o que gera algum fôlego para aguardarem um pouco mais as negociações em andamento. Porém, o que já visualizamos são eventuais pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor”, comenta.

De acordo com ele, quando o exportador realiza o negócio, ele fecha o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) — financiamento, pré-embarque, que permite que as empresas obtenham recursos antecipados com base em um contrato de câmbio — e tem um tempo para cumprir esse compromisso.

“Com a prorrogação dos negócios, o ACC não é cumprido e passamos a sofrer com mais juros, com taxas altas, e custos adicionais, com overhead, por exemplo”, cita.

Prejuízo esperado

Ferreira anota que o prejuízo fica ainda maior quando se analisa a estrutura do mercado internacional, que, há algum tempo, se apresenta como o chamado “mercado invertido”, com os contratos futuros mais distantes depreciados em relação aos mais próximos.

“O vencimento dezembro de 2026 na Bolsa de Nova York, por exemplo, está com deságio de 9% a 10% frente ao dez/25. Já esse dez/25 possui depreciação de cerca de US$ 10 por saca ante o set/25. Ou seja, a prorrogação de um embarque de agosto, tendo como referência o set/25, para os próximos meses, que terão como base o dez/25, geraria uma perda adicional de US$ 10 por saca, além do impacto dos juros do ACC e dos custos adicionais com carrego, armazenagem e logística. Portanto, prorrogar embarques, além de atrasar divisas e compromissos, tem esse impacto negativo acumulado e acentuado”, analisa.

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Fechando a lista dos cinco principais destinos dos cafés do Brasil, entre janeiro e o fim de julho deste ano, aparecem:

  • Alemanha: 2,656 milhões de sacas – queda de 34,1% em relação aos sete primeiros meses de 2024;
  • Itália: 1,733 milhão de sacas (-21,9%);
  • Japão: 1,459 milhão de sacas (+11,5%); e
  • Bélgica: 1,374 milhão de sacas (-49,4%).

Ações contra o tarifaço

O Cecafé informa que continua o trabalho para alcançar, junto ao governo brasileiro, aos pares do setor privado norte-americano e a outros canais pertinentes nos Estados Unidos, o entendimento para que os cafés do Brasil entrem na lista de isenção do tarifaço.

Isso porque o produto não é cultivado em escala no país parceiro e, ainda, desempenha papel fundamental na economia dos EUA, na satisfação dos consumidores locais.

Além disso, conforme o Cecafé, os dois países possuem uma relação de interdependência, com o Brasil sendo o maior produtor e exportador mundial e o líder no fornecimento de café ao país do Hemisfério Norte, e os Estados Unidos ocupando o posto de maior importador e consumidor global, além de principal destino do produto brasileiro.

“Não podemos, em hipótese alguma, sacrificar uma relação comercial construída em favor da cafeicultura com esmero, respeito e dedicação, de ambos os lados, em prejuízo de centenas de milhares de produtores e consumidores. Nossa história é muito maior do que o momento que estamos vivendo e, com pragmatismo e diplomacia, devemos negociar em favor dos dois lados. Ao longo da história do crescimento da economia brasileira, o café sempre esteve à frente de seu tempo, não somente em números, mas desempenhando um papel social, que podemos dizer, incomparável em todo o mundo”, avalia Ferreira.

Mediante os prejuízos que inevitavelmente ocorrerão em razão das tarifas, o Cecafé enfatiza que vem mantendo diálogos com os governos federal e dos Estados produtores a respeito da necessidade de implantações de medidas “temporariamente compensatórias” enquanto permaneça essa situação de desequilíbrio comercial entre os cafés do Brasil frente às demais origens que exportam para os Estados Unidos, bem como para outros destinos.

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Segundo o presidente do Cecafé, a instituição, junto com a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), tem solicitado ao governo brasileiro que intensifique ações junto a outras nações compradoras desse produto, visando acordos bilaterais, com reciprocidade comercial, a fim de que esses países em específico possam dar, aos cafés solúveis do Brasil, a mesma isenção oferecida a outras origens concorrentes.

“Principalmente no caso do café solúvel, produto acabado, de valor agregado e gerador de empregos, nossas indústrias, infelizmente, vêm sendo penalizadas em vários destinos das nossas exportações, o que retira a competitividade, prejudica nosso segmento industrial e, por conseguinte, nossos produtores. Temos solicitado atenção nesse sentido há algum tempo e precisamos desses acordos bilaterais para que, assim, possamos ampliar nossa participação nesses outros mercados”, aponta Ferreira.

Ele completa, ainda, que o Brasil, através do Cecafé e das demais entidades da cadeia produtiva, participa dos mais diversos fóruns mundiais, em países consumidores e produtores, compartilhando conhecimento, ciência, tecnologia, mais produtividade, sustentabilidade e qualidade.

“Esse trabalho é para que haja um ambiente de empatia e respeito, de forma que todos os produtores de café e as próximas gerações tenham uma melhor qualidade de vida, em todo o mundo, e para que os consumidores de todo o planeta possam desfrutar das mais diversas experiências com café, com diferentes blends, os quais não deveriam abdicar dos cafés do Brasil”, conclui.

China como alternativa?

Foto: Agência Brasil

A respeito do credenciamento, por parte da China, de 183 novas empresas exportadoras de café do Brasil, o presidente do Cecafé esclarece que muitos desses exportadores já atuavam no mercado chinês e que isso não necessariamente implica aumento dos embarques cafeeiros ao país asiático.

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“Observamos atentamente o potencial de crescimento do consumo chinês, mercado que importou 571.866 sacas de janeiro a julho e ocupa a 11ª posição no ranking dos principais parceiros dos cafés do Brasil em 2025. Esse credenciamento por cinco anos, como divulgado nas mídias, é positivo do ponto de vista de desburocratização, mas, por si só, não representa nenhum aumento de exportações à China, o que esperamos siga ocorrendo de forma natural, a ser alcançado ao longo dos próximos anos e décadas, dado o aumento de interesse por parte do consumidor, como experimentamos em outros países da Ásia”, finaliza.

Tipos de café exportados

Nos primeiros sete meses de 2025, o café arábica foi a espécie mais exportada pelo Brasil, com o envio de 17,940 milhões de sacas ao exterior. Esse montante equivale a 81% do total, ainda que implique queda de 13,3% frente a idêntico intervalo antecedente.

O segmento do café solúvel veio na sequência, com embarques equivalentes a 2,229 milhões de sacas (10,1% do total), seguido pela espécie canéfora (conilon + robusta), com 1,949 milhão de sacas (8,8%), e pelo setor industrial de café torrado e torrado e moído, com 31.755 sacas (0,1%).

Produtos diferenciados

Os cafés que têm certificados de práticas sustentáveis ou qualidade superior responderam por 21,5% das exportações totais brasileiras entre janeiro e julho de 2025, com a remessa de 4,759 milhões de sacas ao exterior. Esse volume é 8,8% inferior ao aferido no acumulado dos primeiros sete meses do ano passado.

A um preço médio de US$ 425,78 por saca, a receita cambial com os embarques do produto diferenciado foi de US$ 2,026 bilhões, o que correspondeu a 23,7% do total obtido com todos os embarques de janeiro a julho deste ano. Na comparação com o mesmo intervalo de 2024, o valor é 57,8% maior.

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Os EUA lideraram o ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados, com a compra de 871.972 sacas, o equivalente a 18,3% do total desse tipo de produto exportado. Fechando o top 5, aparecem:

  • Alemanha: 606.122 sacas (12,7%);
  • Bélgica: 533.023 sacas (11,2%);
  • Holanda (Países Baixos): 366.536 sacas (7,7%); e
  • Itália: 292.795 sacas (6,2%).

Escoamento de café

Foto: Ricardo Botelho/MInfra

O Porto de Santos segue como o principal exportador dos cafés do Brasil em 2025, com o embarque de 17,809 milhões de sacas e representatividade de 80,4% nos sete primeiros meses do ano.

Na sequência, vem o complexo portuário do Rio de Janeiro, que responde por 15,5% ao enviar 3,429 milhões de sacas ao exterior, e o Porto de Paranaguá (PR), que exportou 208.950 sacas e tem representatividade de 0,9%.

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