Agricultura
Guerra, fertilizantes e a revolução dos bioinsumos: a vulnerabilidade do agro brasileiro e o caminho para a resiliência

Divulgação
A dependência brasileira de fertilizantes sintéticos importados é uma bomba-relógio geopolítica. O País importa 85% dos fertilizantes que utiliza, com a Rússia respondendo por 23% desse total e o Irã por 17% das importações de ureia (1). A guerra na Ucrânia em 2022 já havia exposto essa fragilidade: os preços do cloreto de potássio (KCl) dispararam de US$ 300 para US$ 1.200 por tonelada, pressionando os custos de produção em plena safra recorde. Agora, em junho de 2025, o conflito Israel-Irã volta a expor o País ao risco de desabastecimento e ao aumento expressivo nos custos de produção.
A paralisação de fábricas iranianas de ureia (que produzem 9 milhões de toneladas/ano) e a interrupção do fornecimento de gás israelense ao Egito reduziram 20% da oferta global de nitrogenados, elevando os preços da ureia de US$ 398 para US$ 435/tonelada em 4 dias (+9,3%).
Impactos imediatos: logística, custos e desabastecimento
Um agravante é que a guerra entre Israel e Irã não afeta apenas preços, mas toda a cadeia logística. O ponto crítico é o risco no Estreito de Ormuz, por onde passam 20 milhões de barris de petróleo/dia e 42% das exportações globais de ureia. Um bloqueio iraniano elevaria fretes marítimos e custos de seguros, impactando de 15 a 20% dos custos de importação brasileiros (2,3).
Cálculos ilustram que, em se mantendo a tendência atual, a relação de troca é insustentável: produtores de milho precisam de 75 sacas para comprar uma tonelada de ureia, ante 60 sacas antes do conflito – o pior patamar desde 2022.
Além disso, o timing é crítico. As compras para a safrinha 2025/26 (milho, algodão) estão em curso, e o desabastecimento pode afetar o plantio a partir de setembro
Bioinsumos: resposta estratégica à crise
Os biofertilizantes vêm se apresentando como alternativa viável e urgente nesses contextos, com vantagens comprovadas. Vejamos:
a.Redução de dependência: Produzidos localmente a partir de resíduos agroindustriais (vinhaça, tortas vegetais) e microrganismos endêmicos, eliminam riscos geopolíticos;
b.Economia de 30 a 40% nos custos: Enquanto a ureia sintética dispara, bioinsumos mantêm preços estáveis, com potencial de economizar US$ 5,1 bilhões/ano nas culturas de milho, trigo e cana.
Benefícios ambientais: Inoculantes como Azospirillum brasilense reduzem em 30% o uso de nitrogênio sintético em soja e milho e cortam emissões de N?O (gás 300x mais poluente que CO2 em 70% .
Gargalos e soluções: o papel das políticas públicas
Apesar do potencial, a transição dos produtos sintéticos para os bioinsumos enfrenta grandes obstáculos em diferentes dimensões:
- Regulatório: O registro de novos produtos na Mapa/Anvisa leva até três anos, desincentivando inovações;
- Escala industrial: O Brasil precisa ampliar a capacidade da oferta, sendo que utilizando as biofábricas, por exemplo, seria necessário atender 30 milhões de hectares até 2026, o que requer R$ 10 bilhões em investimentos;
- Falta de métricas: Não há dados sistematizados sobre elasticidade-preço entre sintéticos e bioinsumos, dificultando políticas de subsídios eficazes.
Medidas propostas para reduzir os impactos negativos:
- Acelerar o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF): Com metas para expandir em 25% a produção de organominerais até 2025 e triplicar a área com microrganismos até 2027;
- Criar um “BioIndex” nacional: Um índice em tempo real para monitorar preços, demanda e estoques de bioinsumos, permitindo ajustes ágeis em subsídios e contratos.
Conclusão: da vulnerabilidade à liderança verde
As guerras no Leste Europeu e Oriente Médio escancararam uma verdade inconveniente: o modelo de dependência de fertilizantes sintéticos é insustentável economicamente e estrategicamente.
Os bioinsumos não são mais uma alternativa marginal, mas um pilar de segurança alimentar e soberania tecnológica.
O Brasil tem 60% das terras agrícolas tropicais do planeta e potencial para liderar uma revolução bio-based. Para isso, precisa:
- Converter crise em ação: Usar o PNF para reduzir as importações de 85% para menos de 60% até 2030.
- Posicionar-se como exportador de tecnologia verde: Bioinsumos são a chave para transformar vulnerabilidade em vantagem competitiva global.
- A resposta do Brasil definirá não apenas seu futuro agrícola, mas seu papel na geopolítica da alimentação do século XXI. A hora dos bioinsumos é agora!!
- https://globorural.globo.com/noticia/2025/06/conflito-entre-ira-e-israel-deixa-mercado-de-fertilizantes-do-brasil-em-alerta.ghtml
- https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/guerra-israel-ira-agronegocio/
- https://globorural.globo.com/economia/noticia/2025/06/se-persistir-guerra-pode-trazer-mais-impactos-negativos-ao-agro.ghtml
Heloisa Burnquist – Professora da Esalq/USP e pesquisadora do Cepea
Fonte: CEPEA
Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]
Agricultura
Aplicativo ajuda a reduzir o uso de defensivos nas lavouras

De olho no smartphone, produtores de algodão e soja do oeste da Bahia podem diminuir o uso de defensivos, reduzindo o custo de produção e o risco de danos ao meio ambiente. Na tela do celular, ou do computador, uma ferramenta mostra quando é realmente necessário aplicar produtos na lavoura, combinando dados climáticos e estatísticas de ocorrência de duas ameaças às culturas: a mancha-da-ramulária do algodoeiro e a ferrugem-asiática da soja.
Desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), a ferramenta funciona por meio de um aplicativo e de uma plataforma online. Chamada de MonitoraOeste, a tecnologia inicialmente contemplava apenas informações sobre as duas doenças causadas por fungos, cujos prejuízos às lavouras podem superar 75%. Depois, passou a reunir informações também sobre a principal praga da cotonicultura, o bicudo, capaz de reduzir as colheitas em até 87%.
A Abapa monitora a presença das três doenças no campo, inclusive por meio de armadilhas. Todos os dados desses levantamentos são inseridos no MonitoraOeste, o que permite ao produtor visualizar rapidamente, no celular, como está o nível de ocorrência das doenças e do bicudo em sua localidade.
- Veja em primeira mão tudo sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo: siga o Canal Rural no Google News!
O sistema também gera notificações de cada nova ocorrência registrada e reúne dados de estações meteorológicas instaladas na região. Com essas informações, a tecnologia usa um modelo matemático que as analisa e gera mapas de favorabilidade. Eles indicam, em tempo real, se há probabilidade de as doenças surgirem e se desenvolverem a cada período.
Os dados permitem aos produtores decidir quando aplicar ou não defensivos, a partir das condições locais. O pesquisador da Embrapa Territorial (SP) Julio Cesar Bogiani afirma que três fatores são necessários para a proliferação de doenças nas lavouras: presença do agente causador, dos hospedeiros (as plantas) e condições climáticas favoráveis.
O que o MonitoraOeste faz é reunir dados e transformá-los em informações sobre essas condições para mostrar quando o ambiente está mais propício ao desenvolvimento das doenças. Assim, ajuda o produtor a tomada de decisões.
Sem essas informações, os agricultores acabam adotando um calendário fixo definido pelos fabricantes dos defensivos. Com os índices de favorabilidade fornecidos pelo aplicativo, eles conseguem fazer aplicações de forma mais racional.
Em anos com baixa probabilidade de ocorrência das doenças, podem reduzir uma, duas ou mais aplicações, mantendo a eficiência do controle fitossanitário, detalha o pesquisador. Bogiani ainda chama a atenção para a disponibilização de dados em tempo real, característica fundamental do MonitoraOeste para a assertividade na decisão do produtor.
Menor impacto ambiental com redução de emissões
O MonitoraOeste pode ser utilizado gratuitamente por agricultores da região. “Estamos levando essa funcionalidade do aplicativo para todos da cadeia produtiva, mostrando que eles devem baixar para consultar a qualquer momento”, anuncia o gerente do programa fitossaniário da Abapa, Antônio Carlos Araújo.
Ele destaca a utilidade de ter, na palma da mão, mapas como o da ocorrência do bicudo do algodoeiro, para saber quando agir, evitando prejuízos, seja uma infestação da lavoura por falta de ação quando necessário seja pelo desperdício de produtos aplicados em momento inadequado.
Há outros benefícios também como o aumento da produtividade e a redução do potencial de resistência dos fungos causadores das doenças aos fungicidas. Técnicos da Abapa, ouvidos pela Embrapa no processo de avaliação do impacto da tecnologia, enfatizaram a contribuição dela para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e para a conservação de habitats e recursos genéticos. Assim, a redução no número de aplicações de defensivos reduz o uso de maquinários movidos a combustíveis fósseis e reduz o risco de contaminação de ambientes e pessoas.
A pesquisadora da Embrapa Celina Maki Takemura destaca a rede de pessoas envolvidas como ponto forte do produto. “Produtores, técnicos, pesquisadores e instituições trocando informação, ajudando-se mutuamente e mantendo o sistema funcionando. Essa colaboração constante é o que mantém a ferramenta viva e relevante. Não é só um aplicativo — é um esforço coletivo”, observa. “O projeto nasceu de uma demanda real do campo e continua sendo construído junto com quem usa. Isso faz diferença”, complementa a cientista.
“Ficou evidente a importância que os técnicos entrevistados atribuem ao sistema”, avalia o pesquisador Juan Diego Ferelli de Souza, da área de Transferência de Tecnologias da Embrapa Territorial. “O relatório de avaliação de impactos do Monitora Oeste demonstra a importância de soluções práticas e confiáveis para auxiliar os produtores rurais, apoiando o processo de tomada de decisões e contribuindo para o aumento da produtividade e para a redução dos custos e dos riscos da produção”.
*Sob supervisão de Luis Roberto Toledo
O post Aplicativo ajuda a reduzir o uso de defensivos nas lavouras apareceu primeiro em Canal Rural.
Agricultura
Avicultura familiar une gerações e impulsiona novos investimentos em São Paulo

Uma decisão familiar transformou a rotina de Flávio Biglia e seus dois filhos. Natural de Campinas (SP) e com carreira consolidada no Direito, ele decidiu investir na avicultura familiar após conhecer de perto o funcionamento de um aviário no interior paulista. A ideia inicial era adquirir uma fazenda com seringueira, mas um contato com um produtor amigo mudou o rumo da história.
“O modelo de negócio me chamou atenção: pouco uso de mão de obra, alta tecnologia e retorno interessante. Foi aí que tudo começou”, conta Flávio.
Com o aval da empresa integradora, a JBS/Seara, e apoio de uma construtora especializada, o projeto saiu do papel. Em março de 2024 começaram as obras dos primeiros dois aviários — e o primeiro alojamento aconteceu apenas quatro dias antes da visita da equipe de reportagem do Interligados – Vida no Campo.
Do escritório para o campo: filhos assumem o protagonismo
A grande virada veio com a decisão de envolver os filhos, ambos com experiência internacional.
“Se não fosse por eles, eu não teria começado. Hoje tenho 60 anos e quero desacelerar. A ideia é que eles toquem o projeto com autonomia”, explica.
Com entusiasmo e espírito empreendedor, os irmãos acompanham de perto cada detalhe da produção, da construção ao manejo, e já planejam o futuro: mais dois aviários devem ser finalizados até setembro de 2025. E há espaço para crescer: a propriedade tem potencial para novos núcleos.
Tecnologia, retorno e sucessão como pilares da nova fase
A família escolheu uma estrutura moderna e totalmente automatizada. O uso de sensores, controle remoto por Wi-Fi e ambientes climatizados permite uma gestão eficiente e menos dependente de mão de obra intensiva. Isso, segundo eles, favorece a sucessão familiar no campo.
“Antes, muitos jovens saíam da zona rural. Hoje, com tecnologia e estrutura, querem ficar e empreender”, destaca a filha, Flávia Biglia.
A parceria com a JBS também foi decisiva para iniciar o investimento com segurança. A empresa oferece suporte técnico, insumos, acompanhamento semanal e orientação constante aos produtores.
“Mesmo sem experiência, conseguimos começar com confiança. A empresa esteve presente desde o início. Isso faz toda a diferença”, diz Flávio.
Visão de futuro e propósito na produção de alimentos
O sentimento de pertencimento ao campo e o orgulho de produzir alimentos são combustíveis para os próximos passos. A família se reconhece como parte do agronegócio brasileiro e já se vê contribuindo com uma cadeia essencial: a produção de proteína acessível e de qualidade.
“Saber que estamos ajudando a colocar alimento na mesa das pessoas é gratificante. Esse primeiro lote vai nos ensinar muito — e queremos aprender sempre mais”, afirma a filha.
Para quem pensa em investir na avicultura, Flávio é direto:
“Entre. Pesquise, participe de feiras, converse com produtores e vá atrás de boas parcerias. Vale a pena. O retorno é real e o campo pode surpreender.”
Faça parte da nossa comunidade no WhatsApp!
Entre no grupo do Interligados e fique por dentro de notícias, dicas técnicas e novidades das cadeias de aves e suínos, além de acompanhar o dia a dia no campo. É rápido, fácil e cheio de conteúdos especiais! Clique aqui e junte-se a nós.
O post Avicultura familiar une gerações e impulsiona novos investimentos em São Paulo apareceu primeiro em Canal Rural.
Agricultura
Série sobre Marília Mendonça será lançada e promete emocionar o Brasil

O Amazon Prime Video anunciou oficialmente que está produzindo uma série documental sobre a vida e carreira de Marília Mendonça, um dos maiores fenômenos da música brasileira, morta precocemente em um acidente de avião aos 26 anos de idade. A produção promete emocionar o país ao revelar momentos inéditos e íntimos da artista que revolucionou o sertanejo com sua autenticidade e talento.
A série já está em pré-produção, com gravações previstas para começar em setembro de 2025 na cidade de Goiânia (GO), onde Marília viveu grande parte de sua trajetória. A direção é de Susanna Lira, cineasta premiada conhecida por trabalhos sensíveis e com forte apelo humano.
- Veja em primeira mão tudo sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo: siga o Canal Rural no Google News!
Marília Mendonça: uma estrela com raízes no interior
Nascida em Cristianópolis (GO) e criada em Goiânia, Marília começou sua carreira ainda adolescente como compositora. Seu talento logo chamou a atenção de grandes nomes da música sertaneja, até que em 2015 ela estourou como cantora solo.
Com letras diretas, emocionais e cheias de identidade, Marília se tornou uma das artistas mais ouvidas do país, quebrando recordes e moldando uma nova geração de cantoras sertanejas, dentro do movimento conhecido como “feminejo”.
Mesmo com a morte precoce em um acidente aéreo em 2021, sua obra permanece viva nas rádios, playlists e na memória afetiva do público.
O que esperar da série documental do Amazon Prime Vídeo
A produção será uma série documental em múltiplos episódios, com acesso exclusivo a arquivos pessoais da cantora, vídeos inéditos e entrevistas com familiares, amigos e colegas de estrada.
Temas que serão abordados:
- A infância e juventude de Marília no interior de Goiás
Os primeiros passos como compositora e sua ascensão meteórica como cantora
O dia a dia nos bastidores das turnês
A maternidade e sua relação com o filho
O impacto de sua morte e o legado que deixou
O projeto é realizado pelas produtoras Kromaki e Chatrone, em parceria com a família Mendonça, o que garante fidelidade emocional e respeito à sua trajetória.
Uma artista do povo, com alma do Brasil interiorano
Um dos grandes diferenciais de Marília sempre foi sua proximidade com o povo. Seu jeito simples, seu sotaque carregado e suas histórias reais conquistaram milhões de pessoas que se viram refletidas em suas músicas.
A série deve destacar justamente esse lado humano da cantora: a mulher forte, a filha dedicada, a mãe amorosa e a amiga de todos. Uma figura que, apesar da fama, nunca perdeu a essência de quem vem do interior e valoriza suas raízes.
O impacto de Marília na cultura brasileira
Marília Mendonça não foi apenas um sucesso comercial. Ela foi uma transformadora cultural. Rompeu padrões em um universo dominado por homens, abriu caminho para dezenas de outras artistas e levou a voz feminina para o topo do sertanejo.
Seus shows arrastavam multidões. Seus vídeos acumulam bilhões de visualizações. Suas letras viraram bordões populares. Seu estilo, atitude e carisma deixaram um legado difícil de medir, mas impossível de ignorar.
Expectativa do público: reencontro com a emoção
Desde que a série foi anunciada, fãs de todo o país têm demonstrado grande expectativa nas redes sociais. A promessa de rever imagens inéditas e ouvir depoimentos sinceros sobre Marília já causa comoção.
“Vai ser como reviver tudo de novo. Vai doer, mas vai ser lindo.” — comentou uma fã no Instagram.
Quando estreia?
A Amazon ainda não divulgou a data oficial de lançamento, mas a previsão é que a série chegue ao Prime Video em 2026, com exclusividade para os assinantes da plataforma.
Compartilhe com quem é fã de Marília Mendonça
Essa série será mais que um documentário. Será um tributo.
O post Série sobre Marília Mendonça será lançada e promete emocionar o Brasil apareceu primeiro em Canal Rural.
-
Pecuária6 dias atrás
Metodologia promete aumentar rendimento de queijo muçarela
-
Agronegócio6 dias atrás
Cotações Agropecuárias: Importações chinesas de soja do Brasil aumentam em 9% em junho
-
Mato Grosso4 dias atrás
Secel publica resultado preliminar de seleção do edital Viver Cultura 2025
-
Meio Ambiente4 dias atrás
Conheça o selo que reconhece o uso de bioinsumos e boas práticas no campo
-
Mato Grosso4 dias atrás
Ager realiza audiência pública para apresentar Relatório Anual de Atividades de 2024
-
Meio Ambiente4 dias atrás
Brasil lidera certificação inédita de carbono com agricultura regenerativa
-
Notícias4 dias atrás
Aplicativo gratuito ajuda produtores a reduzir defensivos em lavouras na Bahia
-
Transporte7 dias atrás
Corpo de Bombeiros socorre vítimas após colisão de carro em poste em Cuiabá