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Agricultura

Mandioca ganha viabilidade e conquista espaço em áreas de soja em Mato Grosso

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Fotos: Assessoria

 

 

Coragem, determinação e apoio! Três palavras que resumem bem a história da produção de mandioca em São José do Rio Claro, Mato Grosso. O município que em 2022 produzia apenas em três hectares a cultura, hoje caminha para superar os 50 hectares após a iniciativa de uma produtora que herdou do pai o talento e a paixão pelo cultivo do tubérculo.

O caminhão cheio mostra que a colheita na Estância Gabriela foi farta. O início do cultivo na propriedade foi para subsistência, uma prática, aliás, adotada pelo produtor Nivaldo Fiorini desde moleque.

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O produtor e a família se mudaram para São José do Rio Claro em 2006. Em 2010 começou a plantar soja e assim foi até 2016, até que decidiu plantar mandioca. A produção era entregue em um “espetinho”.

O início, segundo o produtor, foi desafiador. O crescimento condicionado à irrigação é estratégico. Garante melhor desempenho e permite o escalonamento do plantio, visando a disponibilidade do produto nas épocas do ano em que a oferta costuma ser insuficiente para atender a demanda.

“Você tem que ter jogo de cintura, porque você vai plantar na seca, você vai arrancar. Você planta cinco hectares de mandioca, você vai ter que arrancar em dois, três meses. Se plantar na irrigada, você não precisa plantar tudo de uma vez. Então, todo mês planta um hectare, dois hectares, meio hectare. Vai escalonando para ter o ano inteiro, porque não adianta você ter mandioca tudo num dia só”, diz o produtor ao Sena Transforma desta semana.

A Estância Gabriela possui 75 hectares ao todo. O “seo” Nivaldo arrenda a maior parte da área para outro agricultor da região, que planta soja e milho. Os 12 hectares produtivos restantes são divididos entre o cultivo de soja e de mandioca que, na próxima safra, vai ocupar mais um pedaço do terreno atualmente destinado à oleaginosa.

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“Eu gostei. Eu não mudaria mais. Você fica em muitas atividades e não faz bem em uma ou em outra… Então, você tem que ser bom no que faz”.

Do sonho ao convencimento local

convicção de que a mandiocultura é um bom negócio foi herdada pela filha caçula do “seo” Nivaldo. Depois de morar alguns anos na região sul do país, a produtora Vânia Furtado Fiorini voltou para São José do Rio Claro certa de que, com um trabalho bem elaborado e soma de forças, este cultivo teria um futuro muito promissor no município.

“Um dia me perguntaram se eu tinha um sonho. Eu falei que meu sonho era conseguir colocar na cabeça dos pequenos produtores daqui todo o conhecimento que eu tive na região de Quatro Pontes, no Paraná”, comenta.

Na época em que teve um estalo para montar a associação, Vânia conta que chegou a ouvir de seu pai e do marido para deixar “quieto”, mas no fim, como os dois sabiam de sua teimosia e que não desistiria, acabaram abraçando a ideia.

Conforme a produtora e presidente da Associação dos Pequenos Produtores de São José do Rio Claro (Aproclaro), ao levarem a ideia para a Prefeitura de São José do Rio Claro, a mesma os convidou para conhecer um projeto desenvolvido em Sorriso, o Frutifica Sorriso.

“Quando voltamos para cá as pessoas ficaram muito encantadas com o que viram e foi um pouco mais fácil de conseguirmos montar e implantar a associação aqui”.

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Após a criação da associação, surgiu a ideia de uma agroindústria, que mais uma vez contou com o apoio do poder público local e ganhou espaço em uma antiga escola agrícola.

“Quem plantava, que estava na associação, era eu e meu pai. Não davam três hectares plantados. O meu pai já trabalhava com mandioca, então nós tínhamos que colocar na cabeça do produtor que aquilo era bom”.

Assistência técnica muda a realidade da produção

Para levar essa mensagem aos produtores, a produtora contou com a ajuda do presidente do Sindicato Rural de São José do Rio Claro, Aparecido Rodrigues. Ele enxergou o potencial do projeto e entendeu que o sucesso do mesmo também passaria pela orientação técnica e gerencial.

Durante uma conversa, Aparecido comentou sobre o programa do Senar Mato Grosso que leva assistência técnica e gerencial aos produtores e que possui três anos de duração. O programa em questão era a ATeG Olericultura.

“Na minha opinião, foi uma das melhores coisas que a gente pôde fazer para o produtor”.

Os atendimentos da ATeG Olericultura em São José do Rio Claro tiveram início em meados de 2022.

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“Quando chegamos aqui, já tinha o grupo montado. Só que eles ainda não tinham essa tradição de cultivar mandioca. Eles tinham um sonho de cultivar”, frisa o técnico de campo Jefferson Benedito Barros da Silva.

Vânia foi a primeira produtora com quem Jefferson conversou. Ele lembra ainda que não foi fácil convencer os produtores locais, uma vez que muitos ali estavam há 20, 30 anos com outros cultivos.

“Leva tempo para ganhar essa confiança e começar a mudar os hábitos dele para depois mostrar o resultado lá na ponta. Muitos ainda tinham receio de plantar. ‘E depois, para quem vou vender essa mandioca?’. E através desse sonho da Vânia, que se tornou realidade, nós fizemos que mais produtores aderissem à cultura”.

“Você tendo uma boa preparação do solo, você consegue reduzir o ciclo da planta e aumentar a produtividade. Outra coisa fundamental para conseguir altas produtividades numa mandioca com padrão e qualidade é fazer calagem, conforme as recomendações, e adubação”.

Faz quase três anos que uma vez por mês que o técnico de campo leva conhecimento sobre a produção de mandioca para os produtores de São José do Rio Claro. Na Estância Gabriela, onde a produção de mandioca já era uma realidade, a troca de informações com o profissional do Senar também tem feito a diferença.

Além de poder contar com o olhar mais técnico para o campo, o “seo” Nivaldo também tem aproveitado as orientações para melhorar a gestão da atividade.

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Com o sorriso de orelha a orelha, o produtor conta ao programa do Canal Rural Mato Grosso que já sabe o quanto ganhou nos meses de janeiro e fevereiro.

“Ele põe tudo no caderno e aí eu sei o quanto estou ganhando. Eu não sabia. Mas, tem que ter parâmetro. E agora está bom. A gente está sabendo o quanto ganha. Não fica rico, mas é bom”.

Agroindústria influência na produção de mandioca

O entusiasmo com este novo momento da mandiocultura no município animou até quem tem tradição no cultivo de soja.

É o caso do presidente do Sindicato Rural de São José do Rio Claro, Aparecido Rodrigues. “Aqui na região não tinha praticamente plantio de mandioca, muito pouco. E hoje virou uma febre. Ano passado foi meu primeiro ano e esse ano estamos com seis hectares. E bastante gente está embarcando junto”.

Independentemente do perfil do produtor, cada sorriso otimista demonstra como o trabalho conjunto e a coragem de enfrentar desafios para construir novas oportunidades valem todo esforço. Assim como os números, que não deixam dúvidas: o grupo está no caminho certo.

De acordo com Jefferson, quando os trabalhos começaram em 2022 ele fez um mapeamento da produção de mandioca em São José do Rio Claro. Na época apenas três hectares eram destinados para a cultura e com o convencimento dos produtores em 2023 saltou para 24 hectares.

“De 2023 para 2024 saímos de 24 hectares para 50 hectares e a tendência é aumentar cada vez mais”.

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No que diz respeito a produtividade, enquanto a produtividade média do estado é de 14 mil quilos por hectare, em São José do Rio Claro as médias variam entre 20 mil e 40 mil quilos por hectare.

E esta expansão está diretamente ligada ao trabalho feito pela agroindústria, que tem conquistado cada vez mais clientes nos municípios da região, ampliando a demanda pelo produto.

Quando a comercialização da produção da associação começou, Vânia recorda que em 2023 haviam sido 82 toneladas de mandioca.

“Em 2024, nós vendemos 210 toneladas e agora esse ano, janeiro e fevereiro, 51 toneladas. Arrepio só de falar. Para se ter uma noção, temos associados que trabalhavam em fazenda, ganhavam super em e saíram para viver da propriedade rural. São pessoas que estão bem contentes com a atividade”.

Hoje, a Aproclaro conta com 30 associados, entretanto cerca de 15 entregam a produção no momento. Os demais estão em primeiro plantio, relata ao Canal Rural Mato Grosso a produtora.

Além do espaço para a agroindústria, a Aproclaro conseguiu com a Prefeitura municipal a cessão de uma plantadeira, cujo uso é revezado entre os produtores. Outra ajuda veio do governo de Mato Grosso com um caminhão para levar a produção para o comércio local e de municípios como Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra, Diamantino, Arenápolis e Nortelândia.

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“A ajuda do poder público com o pessoal do Senar fez toda a diferença para nós. A gente entrega em torno de dois mil, três mil quilos por semana. É geração de emprego para essas pessoas que estão aqui [na indústria], geração de renda para o produtor e para quem faz a entrega. É uma engrenagem”.

Ao ser questionada se a palavra “impossível” faz parte do seu dicionário, Vânia é enfática ao dizer que “jamais!”.

“O impossível não existe no meu vocabulário. muita gente falava que era impossível conseguir a industrial, conseguir o caminhão, que era impossível colocar na cabeça do produtor de São José do Rio Claro para produzir mandioca e olha o tanto que já conseguimos. E, hoje, é gratificante ver o resultado de tudo isso”.

 

Luiz Patroni/Viviane Petroli

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Colaborou:  Astrogildo Nunes – [email protected]Colaborou:  Astrogildo Nunes – [email protected]

 

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Agricultura

Lula pediu a presidente da China a retomada de compra de frango após gripe aviária

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Foto: Ricardo Stuckert/ Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu ao presidente da China, Xi Jinping, que o país volte a comprar frango brasileiro.

As exportações brasileiras de produtos avícolas de todo o território nacional à China estão suspensas desde 16 de maio, quando foi confirmado um caso de gripe aviária em granja comercial no município de Montenegro (RS), conforme prevê o acordo bilateral sanitário entre os países.

O pedido de aval para a retomada das exportações brasileiras foi feito por Lula durante telefonema a Xi na noite da segunda-feira (11), afirmam interlocutores. Xi teria dito a Lula que buscaria a resolução do tema, conforme os relatos.

Lula teria mencionado o assunto três vezes durante a ligação com o líder chinês, de acordo com as fontes. Em nota divulgada na segunda-feira, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) afirmou que a ligação durou cerca de uma hora e que os presidentes falaram sobre “a parceria estratégica bilateral” entre o Brasil e a China e “saudaram os avanços já alcançados no âmbito das sinergias entre os programas nacionais de desenvolvimento dos dois países”.

Veja em primeira mão tudo sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo: siga o Canal Rural no Google News!

Anteriormente à ligação, o governo avaliava o envio de uma nova carta ao governo chinês pedindo a liberação dos embarques. O Brasil busca retomar a exportação de frango para a China após a conclusão do caso de gripe aviária e a recuperação do status de país livre de gripe aviária em plantel comercial, com reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) obtido desde o fim de junho.

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O protocolo acordado entre Brasil e China prevê que o país pare de certificar as exportações para o mercado chinês em caso de gripe aviária em plantel comercial. O reconhecimento do status sanitário brasileiro e a retomada das exportações dependem da validação da autoridade sanitária chinesa, assim como ocorre com os demais países importadores dos produtos avícolas nacionais.

Frigoríficos habilitados

O Ministério da Agricultura enviou ainda em junho um dossiê técnico de informações para avaliação da Administração Geral de Alfândega da China (GACC), autoridade sanitária do país asiático, para consequente autorização do retorno das exportações e restituição da habilitação dos frigoríficos aptos a exportar ao país.

Antes da suspensão temporária, 51 frigoríficos brasileiros estavam habilitados a exportar carne de frango e derivados ao país asiático.

No último mês, a GACC solicitou informações adicionais sobre a situação do Rio Grande do Sul e as medidas tomadas para evitar que a gripe aviária se espalhasse em um questionário enviado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). As respostas foram encaminhadas e havia expectativa de conclusão da análise pela GACC neste mês.

China é maior importador

A China é o principal destino do frango brasileiro, sendo responsável por 13% dos embarques da proteína brasileira. Em 2024, o Brasil exportou 561 mil toneladas de carne de frango à China, gerando US$ 1,288 bilhão em vendas externas.

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Em junho de 2023, o presidente Lula fez um movimento semelhante para liberar embarques de carne bovina à China. Na época, o presidente se envolveu pessoalmente para tentar destravar cerca de 40 mil toneladas de carne brasileira retida em contêineres na China, o equivalente a R$ 2,5 bilhões.

Na ocasião, o presidente Lula também ligou a Xi para pedir a liberação da proteína congelada exportada e produzida antes da confirmação de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (conhecida como mal da vaca louca) em 23 de fevereiro daquele ano, quando o país asiático suspendeu temporariamente as exportações do produto brasileiro. A liberação ocorreu cerca de 20 dias após a ligação.

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Agricultura

Governo anuncia R$ 30 bilhões para empresas afetadas por tarifaço 

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Foto: Divulgação/CS Portos

As empresas afetadas pelo tarifaço do governo de Donald Trump receberão R$ 30 bilhões em linhas de crédito, disse na noite desta terça-feira (12) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao canal Band News, ele adiantou o valor da ajuda em crédito que será anunciada nesta quarta-feira (13).

“Amanhã, vou lançar uma medida provisória que cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as empresas brasileiras que porventura tiveram prejuízos com a taxação do Trump. [Essa quantia de] R$ 30 bilhões é o começo. Você não pode colocar mais porque não sabe quanto é’, declarou Lula, indicando que o valor pode aumentar, caso seja necessário.

De acordo com Lula, o plano dará prioridade às menores companhias e a alimentos perecíveis.

“A gente está pensando em ajudar as pequenas empresas, que exportam espinafre, frutas, mel e outras coisas. Empresas de máquinas. As grandes empresas têm mais poder de resistência. Nós vamos aprovar [a medida provisória] amanhã, e acho que vai ser importante para a gente mostrar que ninguém ficará desamparado pela taxação do presidente Trump”, prosseguiu o presidente.

Segundo Lula, o plano procurará preservar os empregos e buscar mercados alternativos para os setores afetados.

“Vamos cuidar dos trabalhadores dessas empresas, vamos procurar achar outros mercados para essas empresas. Estamos mandando a outros países a lista das empresas que vendiam para os Estados Unidos porque a gente tem um lema: ninguém larga a mão de ninguém”, acrescentou.

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O presidente também anunciou que ajudará os empresários afetados a brigar, na Justiça estadunidense, contra o tarifaço aos produtos brasileiros. “Vamos incentivar os empresários a brigar pelos mercados. Não dá para dar de barato a taxação do Trump. Tem leis nos Estados Unidos, e a gente pode abrir processo. Eles podem brigar lá”, disse.

Créditos extraordinários às empresas

Mais cedo, pouco após audiência pública no Senado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esclareceu que as medidas de ajuda virão por meio de crédito extraordinário ao Orçamento, recursos usados em situações de emergência fora do limite de gastos do arcabouço fiscal. Esse sistema foi usado no ano passado para socorrer as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

Sem dar detalhes sobre o plano, Haddad afirmou que as medidas estão 100% prontas e que contemplam as demandas do setor produtivo. Ele ressaltou que a formulação das propostas ocorreu após reuniões com vários representantes e que deve ser “o necessário para atender aos afetados”.

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Agricultura

Brasil obtém receita recorde nas exportações de café e luta contra tarifaço

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Foto: CNA

O Brasil exportou 2,733 milhões de sacas de 60 kg de café em julho, primeiro mês do ano da safra 2025/26, queda de 27,6% na comparação com o mesmo período de 2024. Os dados partem de relatório mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Contudo, a receita cambial foi recorde para os meses de julho, com o ingresso de US$ 1,033 bilhão, crescimento de 10,4% no comparativo anual.

No acumulado dos sete primeiros meses de 2025, a exportação de café do Brasil recuou 21,4% na comparação com o mesmo período do ano passado (28,182 milhões de sacas), com os embarques caindo para 22,150 milhões de sacas.

A receita cambial, por sua vez, cresceu 36% ante o obtido entre janeiro e o fim de julho de 2024, alcançando o recorde para o período de US$ 8,555 bilhões.

“Uma redução nos embarques já era aguardada neste ano, uma vez que nós vimos de exportações recordes em 2024, estamos com estoques reduzidos e uma safra sem excedentes, com o potencial produtivo total impactado pelo clima. No que se refere à receita cambial, ainda surfamos a onda dos elevados preços no mercado internacional, que reflete o apertado equilíbrio entre oferta e demanda ou mesmo um leve déficit na disponibilidade”, conta o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.

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Principais destinos do café

Os Estados Unidos seguem como o maior comprador dos cafés do Brasil no acumulado dos sete primeiros meses de 2025, com a importação de 3,713 milhões de sacas, o que corresponde a 16,8% dos embarques totais e, apesar de apresentar declínio de 17,9% na comparação com o adquirido entre janeiro e julho de 2024, esse volume fica acima dos 16% de representatividade aferidos no mesmo intervalo do ano passado.

“Até julho, não observamos de fato o impacto do tarifaço de 50% do governo dos Estados Unidos imposto para a importação dos cafés do Brasil, já que a vigência da medida começou em 6 de agosto. A partir de agora, as indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoque por 30 a 60 dias, o que gera algum fôlego para aguardarem um pouco mais as negociações em andamento. Porém, o que já visualizamos são eventuais pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor”, comenta.

De acordo com ele, quando o exportador realiza o negócio, ele fecha o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) — financiamento, pré-embarque, que permite que as empresas obtenham recursos antecipados com base em um contrato de câmbio — e tem um tempo para cumprir esse compromisso.

“Com a prorrogação dos negócios, o ACC não é cumprido e passamos a sofrer com mais juros, com taxas altas, e custos adicionais, com overhead, por exemplo”, cita.

Prejuízo esperado

Ferreira anota que o prejuízo fica ainda maior quando se analisa a estrutura do mercado internacional, que, há algum tempo, se apresenta como o chamado “mercado invertido”, com os contratos futuros mais distantes depreciados em relação aos mais próximos.

“O vencimento dezembro de 2026 na Bolsa de Nova York, por exemplo, está com deságio de 9% a 10% frente ao dez/25. Já esse dez/25 possui depreciação de cerca de US$ 10 por saca ante o set/25. Ou seja, a prorrogação de um embarque de agosto, tendo como referência o set/25, para os próximos meses, que terão como base o dez/25, geraria uma perda adicional de US$ 10 por saca, além do impacto dos juros do ACC e dos custos adicionais com carrego, armazenagem e logística. Portanto, prorrogar embarques, além de atrasar divisas e compromissos, tem esse impacto negativo acumulado e acentuado”, analisa.

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Fechando a lista dos cinco principais destinos dos cafés do Brasil, entre janeiro e o fim de julho deste ano, aparecem:

  • Alemanha: 2,656 milhões de sacas – queda de 34,1% em relação aos sete primeiros meses de 2024;
  • Itália: 1,733 milhão de sacas (-21,9%);
  • Japão: 1,459 milhão de sacas (+11,5%); e
  • Bélgica: 1,374 milhão de sacas (-49,4%).

Ações contra o tarifaço

O Cecafé informa que continua o trabalho para alcançar, junto ao governo brasileiro, aos pares do setor privado norte-americano e a outros canais pertinentes nos Estados Unidos, o entendimento para que os cafés do Brasil entrem na lista de isenção do tarifaço.

Isso porque o produto não é cultivado em escala no país parceiro e, ainda, desempenha papel fundamental na economia dos EUA, na satisfação dos consumidores locais.

Além disso, conforme o Cecafé, os dois países possuem uma relação de interdependência, com o Brasil sendo o maior produtor e exportador mundial e o líder no fornecimento de café ao país do Hemisfério Norte, e os Estados Unidos ocupando o posto de maior importador e consumidor global, além de principal destino do produto brasileiro.

“Não podemos, em hipótese alguma, sacrificar uma relação comercial construída em favor da cafeicultura com esmero, respeito e dedicação, de ambos os lados, em prejuízo de centenas de milhares de produtores e consumidores. Nossa história é muito maior do que o momento que estamos vivendo e, com pragmatismo e diplomacia, devemos negociar em favor dos dois lados. Ao longo da história do crescimento da economia brasileira, o café sempre esteve à frente de seu tempo, não somente em números, mas desempenhando um papel social, que podemos dizer, incomparável em todo o mundo”, avalia Ferreira.

Mediante os prejuízos que inevitavelmente ocorrerão em razão das tarifas, o Cecafé enfatiza que vem mantendo diálogos com os governos federal e dos Estados produtores a respeito da necessidade de implantações de medidas “temporariamente compensatórias” enquanto permaneça essa situação de desequilíbrio comercial entre os cafés do Brasil frente às demais origens que exportam para os Estados Unidos, bem como para outros destinos.

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Segundo o presidente do Cecafé, a instituição, junto com a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), tem solicitado ao governo brasileiro que intensifique ações junto a outras nações compradoras desse produto, visando acordos bilaterais, com reciprocidade comercial, a fim de que esses países em específico possam dar, aos cafés solúveis do Brasil, a mesma isenção oferecida a outras origens concorrentes.

“Principalmente no caso do café solúvel, produto acabado, de valor agregado e gerador de empregos, nossas indústrias, infelizmente, vêm sendo penalizadas em vários destinos das nossas exportações, o que retira a competitividade, prejudica nosso segmento industrial e, por conseguinte, nossos produtores. Temos solicitado atenção nesse sentido há algum tempo e precisamos desses acordos bilaterais para que, assim, possamos ampliar nossa participação nesses outros mercados”, aponta Ferreira.

Ele completa, ainda, que o Brasil, através do Cecafé e das demais entidades da cadeia produtiva, participa dos mais diversos fóruns mundiais, em países consumidores e produtores, compartilhando conhecimento, ciência, tecnologia, mais produtividade, sustentabilidade e qualidade.

“Esse trabalho é para que haja um ambiente de empatia e respeito, de forma que todos os produtores de café e as próximas gerações tenham uma melhor qualidade de vida, em todo o mundo, e para que os consumidores de todo o planeta possam desfrutar das mais diversas experiências com café, com diferentes blends, os quais não deveriam abdicar dos cafés do Brasil”, conclui.

China como alternativa?

Foto: Agência Brasil

A respeito do credenciamento, por parte da China, de 183 novas empresas exportadoras de café do Brasil, o presidente do Cecafé esclarece que muitos desses exportadores já atuavam no mercado chinês e que isso não necessariamente implica aumento dos embarques cafeeiros ao país asiático.

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“Observamos atentamente o potencial de crescimento do consumo chinês, mercado que importou 571.866 sacas de janeiro a julho e ocupa a 11ª posição no ranking dos principais parceiros dos cafés do Brasil em 2025. Esse credenciamento por cinco anos, como divulgado nas mídias, é positivo do ponto de vista de desburocratização, mas, por si só, não representa nenhum aumento de exportações à China, o que esperamos siga ocorrendo de forma natural, a ser alcançado ao longo dos próximos anos e décadas, dado o aumento de interesse por parte do consumidor, como experimentamos em outros países da Ásia”, finaliza.

Tipos de café exportados

Nos primeiros sete meses de 2025, o café arábica foi a espécie mais exportada pelo Brasil, com o envio de 17,940 milhões de sacas ao exterior. Esse montante equivale a 81% do total, ainda que implique queda de 13,3% frente a idêntico intervalo antecedente.

O segmento do café solúvel veio na sequência, com embarques equivalentes a 2,229 milhões de sacas (10,1% do total), seguido pela espécie canéfora (conilon + robusta), com 1,949 milhão de sacas (8,8%), e pelo setor industrial de café torrado e torrado e moído, com 31.755 sacas (0,1%).

Produtos diferenciados

Os cafés que têm certificados de práticas sustentáveis ou qualidade superior responderam por 21,5% das exportações totais brasileiras entre janeiro e julho de 2025, com a remessa de 4,759 milhões de sacas ao exterior. Esse volume é 8,8% inferior ao aferido no acumulado dos primeiros sete meses do ano passado.

A um preço médio de US$ 425,78 por saca, a receita cambial com os embarques do produto diferenciado foi de US$ 2,026 bilhões, o que correspondeu a 23,7% do total obtido com todos os embarques de janeiro a julho deste ano. Na comparação com o mesmo intervalo de 2024, o valor é 57,8% maior.

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Os EUA lideraram o ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados, com a compra de 871.972 sacas, o equivalente a 18,3% do total desse tipo de produto exportado. Fechando o top 5, aparecem:

  • Alemanha: 606.122 sacas (12,7%);
  • Bélgica: 533.023 sacas (11,2%);
  • Holanda (Países Baixos): 366.536 sacas (7,7%); e
  • Itália: 292.795 sacas (6,2%).

Escoamento de café

Foto: Ricardo Botelho/MInfra

O Porto de Santos segue como o principal exportador dos cafés do Brasil em 2025, com o embarque de 17,809 milhões de sacas e representatividade de 80,4% nos sete primeiros meses do ano.

Na sequência, vem o complexo portuário do Rio de Janeiro, que responde por 15,5% ao enviar 3,429 milhões de sacas ao exterior, e o Porto de Paranaguá (PR), que exportou 208.950 sacas e tem representatividade de 0,9%.

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